Porquê?
Desenganem-se desde já aqueles que num primeiro impacto, possam, mesmo que por momentos, pensar que eu teria sido capaz de escrever este poema. Nunca fui grande poeta (até porque a minha veia poética teve sempre um pouco obstruída mas também é caso para dizer, antes essa do que alguma artéria coronária!). Este poema surge aqui porque enquanto estava a arrumar uns livros folheei um deles e, por mero acaso descobri-o, ou melhor, relembrei-o, uma vez que já o conhecia das aulas de Português, numa página onde também havia outros poemas mas sem dúvida foi este que mereceu o meu destaque pelo significado que acarreta consigo...
Porque...
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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